sábado, 30 de junho de 2012

PÁGINA 2


SÃO MIGUEL GARICOÏTS

UM SANTO ACRISOLADO PELA OBEDIÊNCIA

O sonho de sua vida era dar à Igreja um esquadrão de sacerdotes bem preparados e dispostos a aceitar qualquer missão, sobretudo as mais difíceis, as que fossem recusadas pelos outros.
Os anos da Revolução Francesa foram de acirrada perseguição à Igreja. Os padres "refratários" - aqueles que, por fidelidade ao Papa, se recusaram a aceitar a Constituição Civil do Clero - viram-se reduzidos à condição de criminosos, obrigados a fugir ou a exercer na clandestinidade seu ministério sacerdotal. Milhares deram a vida por Cristo, decapitados na guilhotina, mortos por afogamento ou vítimas da fome e das doenças, encarcerados em infectas prisões.
Nessa situação, os sacerdotes fiéis contaram com o auxílio de católicos leigos que não hesitavam em expor a própria vida para acolher em seus lares os ministros de Deus que permaneceram na França para desempenhar sua missão de salvar almas, ou guiar pelas trilhas das montanhas aqueles que fugiam para algum país vizinho.
Os pais de São Miguel Garicoïts - Arnaldo e Graciana - estavam entre esses anônimos herois da Fé. Esse  jovem casal de camponeses de Ibarre, vilarejo francês situado a poucos quilômetros da fronteira espanhola, não temia esconder em sua humilde granja os sacerdotes perseguidos e dar-lhes todo tipo de ajuda. E Deus recompensou sua generosidade, dando-lhe por filho um grande Santo.

Semente de Santo ou... de bandido

Nascido a 15 de abril de 1797, Miguel só pôde ser batizado seis meses depois, devido às dificuldades causadas pela perseguição religiosa. Seu temperamento fogoso  fez-se sentir já nessa ocasião, pois quando o padre lhe derramou na cabeça a água batismal, agarrou com suas mãozinhas a folha do ritual e a rasgou!
Alguns pequenos episódios bastam para revelar seu caráter determinado e impetuoso. Aos quatro anos, atirou uma pedra numa vizinha, em vingança porque ela ofendera sua mãe. Aos cinco, furtou as brilhantes agulhas de um mascate. Em certa ocasião, viu seu irmão menor comendo uma maçã e arrebatou-a de suas mãos; e quando o pequeno lhe perguntou se gostaria que alguém lhe fizesse o mesmo... Encheu-se de  remorso e jogou fora a fruta. Ação bem mais grave: aos onze anos, capitaneou uma revolta para vingar-se do mestre-escola, que castigava com excessivo rigor seus infantis alunos; mas, no momento decisivo, os demais revoltosos fugiram, deixando-o sozinho diante do "inimigo" que o interpelava, e ao qual respondeu com franqueza:
- Sim, professor, nossa intenção era surrá-lo. Mas... peço-lhe perdão.
Assim era ele: alegre, ardente, resoluto, franco, teimoso e disposto a assumir a responsabilidade por seus atos. 
Tinha estofo para tornar-se um grande Santo ou... um grande bandido.
Mamãe Garicoïts percebia isso e, não querendo ter um filho criminoso, corrigia-o com firmeza. Mostrava-lhe às vezes o intenso fogo da lareira, perguntando:
- Está vendo este fogo? Fique sabendo que o do inferno é muito mais terrível... e para lá vão os meninos que cometem pecado mortal!
Para incutir-lhe o espírito de obediência e submissão à vontade de Deus, incitava-o a dizer sempre ao Senhor: 
,"Huna ni!" ("Eis-me aqui", no dialeto basco) a resposta dada pelo jovem Samuel, ao ser chamado por Deus (I Sm 3, 4). 
Reconhecerá ele mais tarde, cheio de gratidão: "Sem minha mãe, acho que teria me tornado um bandido. Depois de Deus, devo a ela o que sou".

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